A 14ª Mostra Cinema e Direitos Humanos, realizada em Manaus, no Auditório Alberto Furtado, no Instituto Federal do Amazonas (Ifam) – Campus Manaus Centro obteve um público de aproximadamente 400 pessoas durante os quatro dias de exibição. Promovida pelo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, com produção nacional da Universidade Federal Fluminense (UFF) e local da Manaus Amazônia Galeria de Arte, a Mostra teve como tema “Viver com dignidade é direito humano”.
Realizando debates após cada exibição, a Mostra tinha o objetivo de promover a reflexão sobre a importância da dignidade humana para garantir qualidade de vida e liberdade a todas as pessoas por meio da linguagem cinematográfica. Além disso, esta edição homenageou Cristina Amaral, renomada montadora que tem a trajetória no cinema nacional marcada pela colaboração em filmes que destacam questões sociais e humanas.
Durante a abertura, o presidente do Instituto Evereste, André Fabiano Pereira, instituição que patrocinou a Mostra no Amazonas, destacou o valor do cinema como ferramenta de transformação e reflexão. “É um evento que além de celebrar a arte, reforça o papel essencial do cinema na defesa da dignidade humana.”, afirmou.
O evento contou com o apoio do Instituto Federal do Amazonas (Ifam), que, além de ceder o espaço para as exibições, mobilizou 15 estudantes voluntários para auxiliar na organização e realização das atividades. O Diretor Geral do Ifam – Campus Manaus Centro, Edson Valente, destacou a importância do evento para a comunidade acadêmica e local. “Este evento reforça nosso compromisso com a educação transformadora e o respeito aos direitos humanos. Estamos entusiasmados em acolher esta programação, que promove sensibilização e aprendizado para toda a nossa comunidade”, completou.
Com entrada gratuita, recursos de acessibilidade e distribuição de pipoca e refrigerante também sem custos, a 14ª Mostra Cinema e Direitos Humanos recebeu um público diverso ao longo dos quatro dias de programação, incluindo estudantes, educadores, ativistas e membros de instituições da sociedade civil organizada, bem como, a comunidade em geral. Segundo o produtor local Carlysson Sena, diretor da Manaus Amazônia Galeria de Arte, a presença do público reforçou o papel do evento como um espaço de diálogo sobre direitos humanos.
“O resultado da 14ª Mostra Cinema e Direitos Humanos em Manaus foi extremamente positivo. A quantidade de pessoas que recebemos ao longo desses quatro dias de programação, demonstra o interesse da comunidade em discutir temas tão relevantes para a nossa sociedade. Foi um espaço rico em diálogo, aprendizado e reflexão, onde o cinema cumpriu seu papel de provocar debates e sensibilizar as pessoas sobre questões fundamentais dos direitos humanos”, afirmou.
A Mostra contou com o apoio de diversas instituições locais, como a Secretaria de Estado de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania, a Central Única das Favelas – Amazonas e o Instituto Evereste.
Exibições e debates
A abertura, no dia 19, apresentou a Sessão Homenagem de Abertura, com os filmes “Abá” (1992), “Belos Carnavais” (2020), “Sem Asas” (2019) e “Confluências” (2024), montados por Cristina Amaral. Os filmes abordaram a temática da cultura e ancestralidade afro-brasileira e a exibição foi seguida por um debate com a ativista do Movimento Negro, Keilah Fonseca e da gestora de projetos sociais, Michele Andrews.
Na quarta-feira, 20, foi apresentada a sessão “Depois do Expediente”, que reuniu produções que retratam diferentes realidades brasileiras, destacando questões como a exclusão social e identidade. “Big Bang” (2022), “Habito” (2023), “Mborayhu Ñemoheñoi: A Luta das Mulheres Avá Guarani” (2022), “Sobre a Cabeça os Aviões” (2022), “Pássaro Memória” (2023), “Fluxo – O Filme” (2023). Após, aconteceu o debate com a psicológa Alessandra Pereira, o artista Deihvisson Souza Mello e a psicóloga Priscila Moreira Santana.
Já a sessão “Territórios e Dignidade” trouxe curtas que evidenciaram a conexão entre comunidades e seus espaços, promovendo reflexões sobre justiça social e a luta por direitos em contextos diversos. Foram exibidos os filmes “Maré Braba” (2023), “Água” (2023), “Mansos” (2024), “Somos Terra” (2020), “Máquinas de Lazer” (2023), “Pulmão de Pedra” (2023) e “Marés da Noite” (2024), e em seguida o debate ocorreu com a presença do artista e produtor cultural Thiago Jesus, da cientista social Adriely Barbosa, e da Coordenadora do Coletivo de Indígenas LGBTQIA+ do Amazonas – Miriã Mahsã, Thais Desana.
No dia 21 de novembro, a Mostra exibiu o filme “Garoto Cósmico” (2007) na Sessão Infantil, um dos destaques da programação. A sessão contou com a presença das crianças do Projeto Fortalecer, da Associação Espírita Beneficente Jésus Gonçalves, além da assessora de comunicação do Ministério Público do Trabalho do Amazonas, jornalista e psicóloga, Salete Lima, e do coordenador do Centro de Formação Continuada, Desenvolvimento de Tecnologias e Prestação de Serviços para as Redes Públicas de Ensino (CEFORT/UFAM), Luiz Carlos Cerquinho, que participaram do debate.
A Sessão Jovens Curadores exibiu “Possa Poder” (2022), “Marina Não Vai à Praia” (2014), “Lapso” (2023) e “Sobre Amizade e Bicicletas” (2022), obras que abordam acessibilidade e inclusão para pessoas com deficiências. O dabate que se seguiu contou com o assessor da Secretaria de Estado de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania, Lucas Pacheco, e o professor e coordenador do Mestrado em Educação Inclusiva – PROFEI / IFAM, Dalmir Pacheco.
No último dia, 22, a Sessão de Homenagem 1 exibiu o drama “Cidade; Campo” (2024), que explorou questões de luto e migração entre o ambiente urbano e rural, seguido por um debate com o cineasta Bruno Vinícius Tavares Souza e o sociológo Elder Monteiro. Já durante a Sessão de Homenagem 2 foi apresentado o drama musical “Curtas Jornadas Noite Adentro” (2021), que trouxe reflexões sobre direitos e a arte, em um diálogo liderado pelo educador e produtor cultural Vitor Lima, e pelo doutor em Psicologia Social, Ronaldo Gomes.
Vitória Miranda, estudante de psicologia e integrante do projeto Enegrecendo a Ufam, da Universidade Federal do Amazonas, mencionou após a Sessão Homenagem de Abertura como as obras retrataram de forma sensível e detalhada as vivências e desafios enfrentados pela população negra, incluindo a marginalização e o racismo estrutural.
“Eu vim sem saber nada da programação, mas fiquei muito feliz ao ver vários filmes que retratam, de forma muito sensível, cada detalhe e particularidade da realidade das pessoas negras, mostrando como suas vidas são marginalizadas. É muito bom sair um pouco da academia para entrar em contato com a realidade, retratada através dessas obras, que nos sensibilizam e nos fazem perceber como essas situações afetam essas pessoas”, contou Vitória.
A assistente social Marnizia Dias, coordenadora do Projeto Fortalecer, declarou, após a Sessão Infantil, que atividades culturais como a Mostra são importantes para as crianças em um contexto social desafiador, como o vivido atualmente em Manaus.
“Essa Mostra fez com que as crianças começassem a refletir e buscar um raciocínio, estimulando pensamentos sobre questões como igualdade, desigualdade e as diferenças entre ambas. Também reforçou que a criança precisa ser criança. Precisa brincar, estudar, viver sua infância. Quanto ao debate, foi a primeira vez que essas crianças tiveram a oportunidade de participar de algo assim fora da sala de aula, com outras pessoas. E eles foram muito participativos. Foi uma experiência extremamente importante, especialmente diante da situação que nossa cidade está vivendo”, destacou.
A psicóloga Alessandra Pereira, que participou do debate da Sessão, contou que para ela, sessões como essa são importantes porque usam a arte como meio de promover debates e conscientização sobre pautas fundamentais. “Os filmes apresentados foram sensacionais. Eles abordaram questões cruciais como os territórios indígenas, o movimento negro, a identidade das minorias, o capacitismo e questões relacionadas ao trabalho. Foram muitas pautas importantes e necessárias, que precisamos realmente debater. Eventos como este oferecem uma oportunidade única de tratar esses temas por meio da arte, tornando sessões como essa fundamentais para a conscientização e o diálogo”, afirmou.