Com a atualização dos casos da varíola dos macacos desta segunda-feira pelo Ministério da Saúde, o Brasil chegou a um total de 10 mil pessoas infectadas com o vírus, quase seis meses após o primeiro caso, detectado em São Paulo no início de junho. De acordo com o painel de monitoramento da doença da Organização Mundial da Saúde (OMS), o país perde apenas para os Estados Unidos, que lidera com 29 mil casos. No mundo, já foram mais de 81 mil diagnósticos registrados.
Ao todo no Brasil, segundo o ministério, são 10.007 casos confirmados, 3.966 em suspeita, além de 13 óbitos. Em relação ao número de mortes, o país está também apenas atrás dos EUA, que detectaram 14 vítimas fatais do vírus monkeypox. No mundo, segundo a OMS, são 55 registros.
Embora o ritmo da doença no Brasil tenha apresentado uma estabilidade em patamar mais baixo que o observado em agosto, quando atingiu o pico, a epidemiologista e professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Ethel Maciel afirma que o país ainda vive um cenário de alerta.
Ela ressalta, por exemplo, o baixo acesso às vacinas e medicamentos, ferramentas que levaram países como Reino Unido, Espanha e Estados Unidos, que viveram grandes ondas da varíola símia, a registrarem hoje uma média de novos casos proporcionalmente menor que a do Brasil.
— Infelizmente, nós tivemos mais um fracasso na condução de uma emergência, mesmo que a doença não tenha sido declarada como uma emergência de modo formal por uma questão política do governo. E o cenário ainda é de alerta, apesar de estarmos com uma estabilidade, porque nós recebemos uma quantidade muito pequena de vacinas e medicamentos e ainda não temos uma política de orientação para o uso dessas ferramentas — afirma a especialista, pós-doutora em epidemiologia pela Universidade John Hopkins, nos Estados Unidos.
Ela acredita que há uma falta de direcionamento, por exemplo, de quais grupos deveriam ser vacinados com base no risco atual de se contaminar com a doença. Além disso, chama atenção para a falta de iniciativas de comunicação efetivas. Para ela, são medidas importantes, uma vez que o vírus deve permanecer circulando.
— Não chegamos a esse número de 10 mil infecções por acaso. Em grande parte foi por uma falta de organização e planejamento na condução dessa emergência de saúde pública. Grupos que são mais expostos deveriam ter uma comunicação mais efetiva, de forma não discriminatória, claro, mas que fosse direcionada a essa população que está mais vulnerável nesse momento de emergência. Esse vírus ao que parece é um que vai continuar a circular, assim como outros, então precisamos também de planejamento e direcionamento de vacinação para esses grupos, de campanhas de comunicação, ampliação de diagnósticos — defende a epidemiologista.
Em relação aos diagnósticos, ela ressalta ainda ter sido esse um dos pontos que favoreceu o avanço da doença no Brasil. Devido ao número limitado de laboratórios para realizar o teste, à demora para o resultado e à falta de orientações sobre isolamento, muitas pessoas infectadas não permaneceram em casa e disseminaram o vírus, diz a especialista.