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Cientistas descobrem nova espécie de piranha herbívora na Amazônia

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Um nova espécie herbívora de piranha foi identificada por um grupo de nove cientistas, entre brasileiros, franceses e norte-americanos, nas águas do Rio Xingu, no Estado do Pará, e ganhou o nome de Myloplus sauron, em homenagem ao vilão Sauron, da trilogia “O Senhor dos Anéis”. O animal possui uma faixa lateral fina no corpo, que lembra o olho do personagem.

À CENARIUM, o engenheiro de pesca paraense e professor da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) Marcelo Ândrade, especialista no estudo de peixes Serrasalmidae encontrados na Amazônia e um dos autores da pesquisa, ressaltou a descoberta e afirmou que, diferente do muitas pessoas pensam sobre piranhas herbívoras, é incorreto chamá-las de “vegetarianas”.

“Vegetariano é algo comportamental [do ser humano] e um peixe não faz isso. Tecnicamente, não chamamos um animal de ‘vegetariano’. Isso é mais uma questão política, de deixar de comer carne por algum motivo, ou por questão de saúde. No caso desses peixes, eles nascem e passam a vida comendo vegetais. Portanto, eles são herbívoros”, explicou Ândrade.

Myloplus sauron possui uma listra preta pelo corpo (Reprodução/”Taxonomia integrativa dos pacus de disco com barras pretas (Characiformes: Serrasalmidae), incluindo a redescrição de Myloplus schomburgkii e a descrição de duas novas espécies”)

O estudo, intitulado “Taxonomia integrativa dos pacus de disco com barras pretas (Characiformes: Serrasalmidae), incluindo a redescrição de Myloplus schomburgkii e a descrição de duas novas espécies” (em tradução livre), também é assinado por Machado VN, Pereira VD, Ota RP, Collins RA, Garcia-Ayala JR, Jégu M, Farias IP e Hrbek T.

Com um corpo arredondado e lateralmente achatado, existem cerca de 100 espécies da família Serrasalmide, – que leva este nome por possuir uma quilha (escamas modificadas em espinhos) endurecida, que lembra uma serra – descritas e reconhecidas pela ciência. Elas são popularmente conhecidas como piranhas, pacus, tambaquis, pirapitingas e caranhas, podendo ser carnívoras ou herbívoras.

Os pacus, nome popular dado no Brasil ao Myloplus, é uma espécie herbívora da família Serrasalminae e são frequentemente referidos como “piranhas vegetarianas” devido à falta de nomenclatura específica, fora do País, e à popularidade dos filmes que retratam piranhas de forma sensacionalista, como no filme Piranhas, de Joe Dante, uma referência ao filme Tubarão, de Steven Spielberg.

Métodos de descoberta

A descoberta foi resultado de um estudo aprofundado, que combinou as diferenças morfológicas dos pacus – peixes que possuem uma faixa vertical preta nas laterais do corpo e apresentam uma grande variedade de tamanhos e formas, com a faixa podendo ser larga, média ou fina – com a diferenciação genética dos peixes. Originalmente, os cientistas acreditavam que todas as variações de pacus observadas pertenciam a uma única espécie, Myloplus schomburgkii, descrita em 1841.

No entanto, os estudos genéticos revelaram diferenças significativas, levando à identificação de três espécies distintas. “Foram descritas, portanto a Myloplus schomburgkii, já conhecida, Myloplus sauron, com uma faixa fina semelhante ao “Olho de Sauron” de “O Senhor dos Anéis”, e Myloplus aylan, nomeada em homenagem ao meu filho, que faleceu no ano passado com seis meses de idade”, explicou, o professor.

Myloplus aylan ocorre principalmente do Médio ao Alto Amazonas (Reprodução/”Taxonomia integrativa dos pacus de disco com barras pretas (Characiformes: Serrasalmidae), incluindo a redescrição de Myloplus schomburgkii e a descrição de duas novas espécies”)

A espécie Myloplus sauron ocorre, especialmente, no Xingu, já o Myloplus schomburgkii, apresenta uma distribuição mais ampla na Amazônia, enquanto Myloplus aylan ocorre principalmente do Médio ao Alto Amazonas. Essas espécies são bem distribuídas na região amazônica, ocorrendo em vários tributários como o Tocantins, Xingu, Tapajós, Rio Negro e Solimões.

Essa descoberta das novas espécies de Myloplus é um marco importante na biologia e conservação das espécies, e reforça a complexidade e a riqueza da fauna amazônica, mostrando que ainda há muito a ser explorado e compreendido sobre os ecossistemas tropicais, além de que a identificação de novas espécies pode ajudar em estratégias de preservação ambiental e manejo sustentável dos ecossistemas aquáticos.

O professor comenta, ainda, a importância de conhecer as novas espécies, nomeando e entendendo seus hábitos na natureza, o que é fundamental para que a biodiversidade seja protegida. “Com um cenário cada vez mais alarmante de degradação ambiental, impactos ambientais ocorrendo, mudanças climáticas, a gente vem sofrendo muita perda de biodiversidade e, por isso, conhecer essas novas espécies é muito importante para a ciência, para a biodiversidade como um todo e para o futuro das novas gerações”, finaliza Marcelo Ândrade.

Com informações da Agência Cenarium

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