Pese a intensa movimentação do governo federal para o envio de mantimentos e remédios para a Venezuela nas duas semanas, apenas duas camionetes deixaram Boa Vista rumo à cidade de Pacaraima, na fronteira com a Venezuela, neste sábado (23).
No entanto, apenas uma camionete chegou. A outra parou no meio do caminho com o pneu furado.
O chanceler Ernesto Araújo acompanhou os veículos e deu uma entrevista coletiva na sede da Polícia Federal em Pacaraima, localizada a algumas dezenas de metros da fronteira.
Ele disse que a não há uma “linha vermelha” que possa interromper a continuidade da operação. “Só se o caminhão quebrar.”
Ao lado de Araújo, o encarregado de negócios da embaixada dos EUA no Brasil, Willian Popp, disse que a participação americana é estritamente humanitária.
Pouco depois do fim da coletiva, uma das camionetas desfilou na frente dos jornalistas em direção à fronteira, com escolta da Polícia Rodoviária Federal. Perto da linha divisória, deu meia-volta.
Os caminhões trouxeram quatro kits emergenciais de saúde do Ministério da Saúde com medicamentos de baixa complexidade, arroz americano e leite brasileiro. Segundo o Itamaraty, os itens abasteceriam 6.000 pessoas por um mês.
Do lado colombiano, em Cúcuta, ao menos 14 caminhões estão carregados com os mantimentos enviados pelos Estados Unidos.
A operação se transformou em um enorme espetáculo midiático. Centenas de jornalistas de todo mundo aguardam o presidente colombiano, Iván Duque, e o presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, a poucas centenas de metros da fronteira.
Os caminhões cruzariam a fronteira após o pronunciamento dos dois. Paramédicos se juntaram aos motoristas que conduzirão os caminhões.
Pela manhã, uma fila de militares com escudos antimotim permanecia fechando a via que dá a acesso ao país vizinho, onde ao menos dois morreram em confrontos com forças militares na sexta-feira.
A movimentação faz parte de uma ação coordenada entre EUA, Colômbia, Brasil e a oposição venezuelana para forçar a deposição do ditador Nicolás Maduro, que, impopular e isolado internacionalmente, depende do apoio das Forças Armadas para se manter no poder.
Além da barreira humana, é possível avistar, a partir do lado brasileiro, grupos de militares venezuelanos ao longo da fronteira seca com o Brasil. Para cruzar, é preciso percorrer vários quilômetros a pé por um caminho montanhoso.
Além da preocupação com conflitos, os moradores do lado brasileiro estão com temor de ficar sem gasolina —por causa do preço baixo e do contrabando, não há um posto sequer no trecho da BR-174 que liga Pacaraima a Boa Vista.
Quando a fronteira está aberta, os brasileiros abastecem em um posto de gasolina aberto apenas para estrangeiros. Mesmo mais caro que o preço vendido a venezuelanos, o litro sai por R$ 1,50, bem mais barato do que os R$ 3,8 de Boa Vista.
Na noite de quinta-feira (22), a reportagem da Folha teve de ir a quatro pontos de venda clandestinos ao longo da rodovia até conseguir um pouco de gasolina —comprou os últimos dez litros disponíveis. O preço já subiu: em vez de R$ 3,50 em tempos normais, cada litro saiu por R$ 5.