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Viradouro aposta na história de Malunguinho para tentar bicampeonato

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Neste ano, em busca do bicampeonato, a escola de samba Viradouro mantém-se na linha de buscar temas de importância na história, ou de religiosidade, para falar de uma parte da cultura brasileira que é pouco conhecida. O enredo Malunguinho: O Mensageiro de Três Mundos, homenageia uma entidade que tem representações como caboclo indígena, mestre e Exu. O carnavalesco Tarcísio Zanon escolheu o enredo após uma extensa pesquisa, que teve origem ainda no período da pandemia de covid-19, quando precisou ficar mais recolhido em casa.

“É um tema muito importante, porque a gente está falando de reparação cultural, de um personagem pouquíssimo conhecido do grande público. Até mesmo em Pernambuco, os pernambucanos não conhecem a força desse homem, um dos maiores líderes quilombolas do Brasil”, disse o carnavalesco à Agência Brasil.

“Quando penso em enredo, penso principalmente em pautas atuais que dialoguem com a escola e que proporcionem a fantasia. Um enredo bom precisa proporcionar a fantasia, precisa tirar o componente do lugar-comum. Essa linha de enredo tem sido muito importante, e eu vejo um marco quando a gente consegue com o enredo como a Rosa Maria Egipcíaca levar essa matéria para as escolas públicas. A escola de samba tem essa função de ser também um lugar, de ser um espaço de educação”, afirmou Zanon, ao recordar que, nos anos 60, o carnavalesco Fernando Pamplona, do Salgueiro, desenvolveu enredos sobre Zumbi dos Palmares, Chica da Silva e colocou esses personagens em um lugar de conhecimento que não era aprendido na escola normal.

“É um caminho que eu gosto muito, inclusive é um dos maiores valores dentro de uma escola de samba, ser esse espaço de transformação, de educação, de reconhecimento enquanto nação e de desconstruir esse imaginário brasileiro”, destacou.

De acordo com o carnavalesco, a representatividade de Malunguinho aumenta quando se analisa a extensão territorial em que o personagem atuava. “É o maior líder quilombola, porque o quilombo [dele] corta desde Pernambuco até a Paraíba, toda a Zona da Mata. É um quilombo itinerante, diferente, até porque ele aprendeu com os indígenas a técnica de fazer e desfazer ocas, de fazer armadilhas, que lá eles chamam de estrepes, para os algozes não os encontrarem. É um personagem que sobrevive dentro da oralidade do povo, dos cânticos cantados dentro do Catimbó.”

A escolha tem também um toque místico. Segundo Zanon, o enredo Malunguinho veio da pesquisa que já tinha feito no período pandêmico sobre o Catimbó e sobre a Jurema, a planta Acácia, usada em uma tradição religiosa de tomar o chá, que começou sendo usada por indígenas das regiões Norte e Nordeste. Quando a equipe da escola fazia a comemoração pelo título de campeã de 2024 em um sítio em Jacarepaguá, zona oeste do Rio, cercado por uma mata, do nada começou a aparecer uma fumaça muito densa. “O meu pai de santo falou que era algum sinal. Eu me lembrei da pesquisa e que Catimbó que significa fumaça de mato, não fumaça no mato”, contou, revelando como foi a opção pelo enredo.

“Me lembrei da pesquisa e falei que este ano a gente tinha que falar na Jurema e em Catimbó. Sou um carnavalesco muito místico, sou sempre atento aos sinais”, disse Zanon, lembrando que isso também ocorreu com o enredo Rosa Maria Egipcíaca, quando a escola foi vice-campeã em 2023. “Sempre tem um sinal. Este foi um sinal. Apresentei o enredo junto à escola e eles gostaram”, afirmou, referindo-se à escolha para 2025.

A história de Malunguinho tem ainda outra parte interessante. Na década de 80, o professor Marcos Carvalho descobriu um fato histórico da existência do líder: era um registro policial da morte de Malunguinho. “Então, tem um personagem que sobrevive dentro da oralidade e agora está na historiografia nacional. A gente pretende elevar ele dentro desse panteão dos grandes heróis nacionais”, indicou.

Na representação terrena do homem encarnado, o líder quilombola se chamava João Batista e será apresentado no início do desfile. “Ele viveu aqui enquanto João Batista, que é o nosso primeiro setor. Essa figura quilombola, líder revoltoso com aquela sociedade, o líder político que lutou pelo povo dele, que tacava fogo nos canaviais e era o pavor dos tiranos”, destacou.

Na sequência, a Viradouro passa a mostrar os três mundos, que é quando João Batista se transforma em ser encantado, uma entidade espiritual. “Ele sobrevive nesses três mundos. Tem a capacidade de ser um curandeiro, quando passa a ser um caboclo, porque aprendeu com os indígenas o segredo das ervas. Mestre, quando conhece essa erva que é a Jurema sagrada e Exu Trunqueiro, quando tem a chave, enquanto em vida, para abrir as senzalas. Agora, enquanto encantado, é a entidade que fecha os corpos e abre o caminho”, disse Zanon, ao apresentar as evoluções do personagem.

E, quando se pergunta se ele vai abrir o caminho para o campeonato, a resposta de Zanon é imediata: “Com certeza. A chave já está na mão dele, e a gente está fazendo de tudo. É um trabalho muito sério. A gente está conversando quase diariamente, trabalhando com as casas de Pernambuco, fez uma pesquisa muito séria e um trabalho espiritual também muito sério. Eu falo que esse enredo está cercado de todos os lados. Historicamente, porque a gente tem os registros, e espiritualmente, porque a gente está indo na fonte para fazer todos os trabalhos”, detalhou o carnavalesco, ao explicar a busca da segurança, que demonstra respeito pela história. E a questão espiritual é importante para o resultado da escola, acrescentou.

A diretora de ateliê, Alessandra Reis, revelou que parte da segurança espiritual que a Viradouro buscou está presente no barracão. “Hoje tem a presença do Malunguinho no barracão. Ele está sentado aqui e vai ser cuidado diariamente, como foi ensinado lá em Recife para a gente dentro de um juremeiro. A posição em que ele está no barracão, o Tarcísio parou para ouvir. ‘Quero ficar na esquerda’, então ele está lá na esquerda, onde pediu. Essa é uma das formas que têm dado certo e são de muito respeito. Acaba todo o barracão respeitando e seguindo”, disse Alessandra.

“A gente está falando do sagrado, e essa entidade existe mesmo. A gente sente que ela está conduzindo. Ela se comunica, se manifesta, sopra nos nossos ouvidos, em sonhos, a equipe toda e quem é sensível, claro que a gente respeita quem não tem crença, mas quem é sensível sente essa energia, a gente precisa respeitar e tentar ao máximo alcançar porque é ele o homenageado”, concluiu Zanon.

Com informações e foto de Agência Brasil.

 

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