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Bolsonaro impôs sigilo de 100 anos sobre cachê pago pelo governo a Gusttavo Lima por propaganda

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A pedido do presidente Jair Bolsonaro (PL), o cachê do cantor sertanejo Gusttavo Lima, por sua participação como garoto-propaganda da Mega da Virada em 2021, foi colocado sob sigilo de 100 anos. De acordo com o Portal da Transparência, a Caixa Econômica Federal desembolsou mais de R$ 10 milhões na campanha de divulgação do sorteio. Mas, por solicitação de Bolsonaro, a destinação e o uso da verba não foram revelados. 

O sigilo foi descoberto pelo Movimento Country – portal de notícias sobre a música sertaneja do Brasil. Segundo o site, a amizade íntima de Gusttavo Lima com o filho 04 do presidente, Renan Bolsonaro, rendeu alguns benefícios ao cantor que foi escolhido no ano passado para protagonizar a campanha da Mega da Virada. O sorteio de mais mais de R$ 300 milhões no último dia de 2021 rendeu a dois jogadores prêmio de cerca de R$ 162 milhões para cada um. 

A falta de transparência sobre o valor pago pelos cofres públicos ao sertanejo repete os vários decretos de sigilo de 100 anos baixados por Bolsonaro sobre temas espinhosos envolvendo ele, familiares e aliados.

Investigado por propaganda irregular

O próprio Gusttavo Lima é também um dos principais apoiadores ao bolsonarismo dentro do gênero musical. Durante o período mais crítico da pandemia de covid-19, ele pressionou os governos para a liberação de shows, mas se ausentou sobre o debate da vacinação. Pouco antes do final do segundo turno das eleições presidenciais, neste ano, ele ainda surgiu ao lado do presidente, em Brasília, acompanhado de outros sertanejos, para apelar aos seus fãs que votassem em Bolsonaro. 

Seu engajamento na campanha de Bolsonaro lhe rendeu ainda processos por propaganda eleitoral irregular. Logo depois do primeiro turno, no início de outubro, ele foi acionado pelo Ministério Público Eleitoral de Goiás por causa de uma ação, em maio, com um helicóptero totalmente “adesivado” nas cores verde e amarelo com a mensagem “Bolsonaro Presidente”. A aeronave sobrevoou um ato bolsonarista em Goiânia antes do período oficial de campanha. 

Gusttavo Lima também é associado à Casa de Carnes Frigorífico Goiás que, no primeiro dia das eleições, atraiu centenas de pessoas para uma ação promocional ofertando aos consumidores que estivessem trajando a camisa da seleção brasileira peças de picanha por R$ 22 o quilo. A promoção, conhecida como “picanha mito”, usava o número e a imagem de Bolsonaro. Ela ainda provocou tumulto pela grande quantidade de pessoas que tentavam entrar no local ao mesmo tempo e passou a ser investigado em inquérito do MPE. 

Cachês superfaturados 

A polêmica com o cachê da Mega da Virada, porém, não é a única que envolve o nome do cantor sertanejo com recursos públicos. Gusttavo Lima é um nomes investigados por cachês superfaturados em shows realizados sem licitação por prefeituras em vários estados brasileiros. 

O Ministério Público investiga, por exemplo, um contrato milionário acertado pelo cantor sertanejo com o município de São Luiz, em Roraima, para dezembro. A prefeitura aceitou pagar R$ 800 mil pelo show para a cidade de 8.232 habitantes em que menos da metade tem acesso a tratamento de esgoto e apenas 17% das vias públicas estão urbanizadas. O valor milionário desembolsado foi justificado como um “show musical do artista de notável reconhecimento”. 

MP, por outro lado, chegou a cancelar uma apresentação que Gusttavo Lima faria em Teolândia, na Bahia, na Festa da Banana, em junho, sob cachê de R$ 704 mil. Meses antes a gestão municipal havia alegado que não havia dinheiro para enfrentar os efeitos das chuvas que atingiram a região em dezembro. Moradores perderam suas casas e a cidade ficou destruída. A prefeita Maria Baitinga de Santana (Progressistas) pediu doações para socorrer as pessoas e recebeu R$ 1,14 milhão do governo federal. Mas contratou o show milionário de Gusttavo Lima porque “sonhava” em conhecê-lo, segundo ela. 

Sigilo e repercussões

As denúncias de cachês milionários pagos a sertanejos com dinheiro público e sem licitação vieram à tona após o cantor Zé Neto, que faz dupla com Cristiano, atacar a cantora Anitta em um show na cidade de Sorriso, no Mato Grosso, em 13 de maio. Durante o evento, ele disse que não dependia da Lei Rouanet – mecanismo de captação de recursos para a área cultural. A legislação é alvo há anos de uma campanha de desinformação e de críticas de Jair Bolsonaro e de seus apoiadores. Zé Neto alegou que quem pagaria o seu cachê “era o povo”. O que de fato foi confirmado, quando um levantamento do portal UOL mostrou que o show da dupla na cidade havia custado R$ 400 mil aos cofres públicos. 

Em meio às polêmicas dos cachês superfaturados, Gusttavo Lima se defendeu das acusações de possíveis irregularidades alegando, em live, que estava com “vontade e sumir” e “cansado”. O caso foi novamente lembrado nas redes nesta quarta-feira (7), após a divulgação do sigilo sob novo cachê pago pelo governo.

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