A reunião do presidente Lula (PT) com o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e líderes partidários nesta sexta-feira (7) após a aprovação da Reforma Tributária teve clima de descontração e uísque e cerveja para os convidados, mas também foi marcado por queixas do mandatário e recado ao líder do PT na Câmara, Zeca Dirceu (PT-PR).
Após a reclamação de Lula, Lira disse que faltou, justamente, o apoio do líder de seu partido à matéria.
Zeca é deputado pelo Paraná e a decisão do Legislativo beneficia seu estado, uma vez que, sem os incentivos, a tendência é que haja uma descentralização das indústrias automobilísticas no país.
O fim da isenção era uma bandeira do governador do Paraná, Ratinho Jr. (PSD-PR), e da bancada do estado.
Lula afirmou aos parlamentares que as montadoras são importantes para o crescimento econômico e citou que, em outros países, essas empresas recebem tratamento diferenciado.
O plenário derrubou em sessão nesta sexta um dispositivo da Reforma que assegurava benefícios fiscais à montadora chinesa que vai se instalar onde antes funcionava a fábrica da Ford em Camaçari, na Bahia.
A iniciativa também atenderia à Stellantis, que tem uma fábrica da Jeep em Goiana (Pernambuco). O artigo era importante para o Executivo e, segundo relatos, foi um pedido endossado por Lula.
Na reunião desta sexta, Lula agradeceu aos parlamentares pelo esforço na aprovação das matérias nesta semana na Câmara e demonstrou otimismo com o cenário econômico do país. Ele indicou ainda aos presentes que deverá lançar durante o recesso parlamentar o chamado Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).
Segundo relatos, o clima foi amistoso e descontraído. O petista disse que pretende realizar novos encontros como o desta sexta e ressaltou a importância da manutenção do diálogo entre o Executivo e o Legislativo.
Após o encontro, ele publicou uma foto com todos os presentes nas redes sociais. Também participaram os ministros Rui Costa (Casa Civil) e Alexandre Padilha (Secretário de Relações Institucionais), além do líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE).
“Me encontrei com o presidente da Câmara, @ArthurLira_, e representantes dos deputados no final desta tarde de sexta, para agradecer pelas importantes votações da semana. Projetos importantes não para mim ou para o governo, mas para o Brasil”, escreveu.
Deputados ouvidos pela Folha sob reserva afirmam que não foram tratadas mudanças no ministério do petista. A presença de parlamentares do PP e do Republicanos, entretanto, foi avaliada positivamente pelo Palácio do Planalto.
Nos bastidores, no entanto, é dado como certo que irão ocorrer outras trocas na Esplanada dos Ministérios, além da substituição de Daniela Carneiro (União Brasil-RJ) por Celso Sabino (União Brasil-PA) no Ministério do Turismo.
Nos últimos dias, o Planalto sinalizou positivamente a líderes partidários para a possibilidade de trocas na Esplanada para atrair PP e Republicanos. O nome do deputado Silvio Costa Filho (Republicanos-PE) é cotado para chefiar o Ministério dos Esportes, enquanto o de André Fufuca (PP-MA), líder da sigla na Câmara, é lembrado para o Ministério do Desenvolvimento Social.
Além disso, pessoas próximas às negociações afirmam que o petista também poderá oferecer o comando da Funasa (Fundação Nacional da Saúde) para um nome que seja consenso entre PP, Republicanos e União Brasil.
Também é tratado nos bastidores a possibilidade de troca na presidência da Caixa Econômica Federal. Para o posto é lembrado o nome de Gilberto Occhi, que já chefiou a instituição.
Pelas redes, Lula comemorou a aprovação da proposta que altera os impostos sobre o consumo. “O Brasil terá sua primeira Reforma Tributária do período democrático. Um momento histórico e uma grande vitória para o país. Parabéns para a Câmara dos Deputados pela significativa aprovação ontem e ao ministro @Haddad_Fernando pelo empenho no diálogo e no avanço da reforma”, publicou em rede social.
Mais cedo, o ministro Fernando Haddad (Fazenda) exaltou a atuação de Lira e prevê que a proposta não enfrente “grandes dificuldades” no Senado.
“[Lira] foi uma grande liderança, teve um papel fundamental”, disse o ministro, que também elogiou o trabalho feito por Bernard Appy, secretário extraordinário da Reforma Tributária.
“A condução do presidente Arthur Lira foi muito republicana, ouviu todo mundo. Só colocou para votar quando tinha segurança que tinha conseguido quase um consenso. Só os extremistas que quiseram demarcar [posição], mas não foi suficiente para impedir um placar absolutamente expressivo”, acrescentou o titular da Fazenda.
Lira, durante o dia, afirmou que conversou com diferentes atores sobre a proposta, inclusive com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
“Eu liguei para ele [Bolsonaro], colocando justamente, sem fazer nenhum juízo de valor, nem pedindo posicionamento, que essa reforma nasceu no governo dele, foi tocada dentro do Congresso Nacional e que ela era do Brasil, mas nada do que isso, conversamos rapidamente”, disse.
Defendeu ainda que tanto a aprovação da Reforma como das outras pautas econômicas em tramitação no Congresso -o Carf e o novo arcabouço fiscal- podem ter influência sobre a próxima reunião do Copom e consequentemente sobre a taxa de juros, que vem sendo criticada pelo governo e por parlamentares por estar alta.